Aspectos culturais nos negócios e na liderança
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Aspectos culturais nos negócios e na liderança

A ABP Corporate Coaching e a M’Canizares, cientes da importância crescente da diversidade cultural nos negócios e na liderança, promoveram no mês de março de 2015 dois seminários web para tratar desse assunto, um em língua portuguesa e outro em língua espanhola. Nestes webinars participaram profissionais de diversos países, a saber: Brasil, Portugal, Moçambique, Cabo Verde, Argentina, Espanha e outros, tendo sido uma experiência única de interação e trocas de conhecimento sobre o tema da interculturalidade. Para saber mais sobre o conteúdo desses seminários, recomendamos a leitura deste artigo.

Em cada um desses webinars, executivos (ver apontamento curricular no final deste artigo) com vivência em multinacionais e expatriação foram convidados a compartilhar as suas experiências, e durante 1 hora conhecemos alguns dos desafios interculturais da mobilidade ou da interação com equipes multiculturais, obtendo-se dicas específicas para uma preparação eficaz na internacionalização.

Desde sempre temos assistido a uma enorme mobilidade e interação do capital humano dos países de língua portuguesa e espanhola por todo o mundo. No entanto, entendemos que este tema se torna hoje ainda mais marcante devido às evoluções das novas tecnologias. Hoje, as nossas pessoas não precisam sair do seu país para que esta interação se efetive. E se antes poderíamos identificar claramente quem reunia o perfil para uma expatriação, hoje todos, sem exceção, terão que estar treinados para a interação multicultural.

As línguas portuguesa e espanhola encontram-se atualmente entre as 5 línguas mais faladas na internet. Provavelmente, muitos já se terão apercebido desta realidade. Contudo, a ABP e a M’Canizares como empresas prestadoras de serviços de formação / treinamento e coaching, tem observado que as empresas que procuram apoio para a internacionalização dos seus colaboradores continua a manter o foco em temas como a compensação e benefícios dos expatriados ou em aspectos logísticos. Não é comum que as empresas diagnostiquem necessidades de desenvolvimento desses colaboradores, preparando-os para a interação cultural ou, mais especificamente, para as nuances culturais que os negócios e/ou a liderança assumem, quer para colaboradores em processo de expatriação ou mobilidade, quer para todos os outros colaboradores que interagem regularmente com a multiculturalidade por ter relações com clientes e colegas de outras culturas. Temos expatriados, pessoas em mobilidade temporária, mas também colaboradores a gerirem equipes dispersas geograficamente, e colaboradores a atenderem clientes oriundos de outras partes do mundo.

O debate nestes 2 webinars gerou-se em torno de algumas questões, tendo-se retirado conclusões bastante interessantes:

Quais foram os principais desafios que enfrentou perante uma transferência de país?

O principal desafio apresentado pelos diferentes convidados foi o sentimento de incerteza, ou mesmo, a capacidade de sobrevivência perante a quebra de rotinas (ou ao caos). Todos foram unanimes ao apontar que o maior desafio na integração de uma cultura diferente passa por reencontrar novas zonas de conforto, onde o equilíbrio retorne, procurando-se simultaneamente descobrir códigos culturais ocultos no país de chegada, como por exemplo, entender a forma como as pessoas se relacionam.

Para ultrapassar este desafio, os nossos convidados sugeriram: preparação para a mobilidade do executivo, investigando tudo o possível sobre o país de chegada, tanto no que diz respeito à cultura do país, como obtendo-se informação sobre a cultura da organização que o acolherá; também poderá facilitar a procura do conforto de casa através da identificação de recursos locais.

Também foi mencionado o fato de esta preparação ser necessária, mesmo que a mobilidade seja para países que aparentemente são próximos. De fato, todos os convidados concordaram que as diferenças entre Portugal e Brasil são imensas, e que a transferência de alguém da América Latina para qualquer país da Europa pode trazer grandes desafios culturais e vice versa.

Neste ponto também foi curioso verificar que pessoas que tenham tido experiências de mudança de país ainda na sua infância têm a possibilidade de adquirir instrumentos facilitadores de integração para quando a necessidade surge novamente na sua vida adulta.

Que diferenças percebeu entre o modo de liderar equipes nos países com os quais atuou?

Algumas das diferenças percebidas foram:

Todos os nossos convidados concordaram que um aspecto essencial para o sucesso da mobilidade de cultura será a capacidade de entender a cultura de chegada, mas acima de tudo não procurar comparar culturas, ou seja, perceber as culturas como diferentes, mas não sendo uma melhor que a outra.

Quais as competências (conhecimentos, habilidades ou atitudes) que entende como cruciais para que superasse os desafios de atuar com diferentes culturas?

As competências entendidas como essenciais para superar desafios interculturais, na perspectiva dos nossos convidados, são:

Se lhe pedissem um conselho sobre o que não fazer quando se está num desafio multicultural, qual seria o conselho que daria?

Os nossos convidados deixaram-nos os seguintes conselhos:

Existe algum tipo de suporte que as empresas poderiam oferecer aos expatriados ou líderes interculturais para facilitar ou acelerar a sua adaptação às diferentes culturas? Qual?

As empresas podem oferecer suporte aos seus colaboradores em mobilidade através de apoio na resolução de aspectos logísticos, como encontrar a casa, a qual será a sua primeira fonte de bem-estar quando deslocados, ou ao sinalizarem um colaborador no país de chegada que sirva de anfitrião e acompanhe o colaborador em mobilidade num primeiro mês. No entanto, todos os nossos convidados foram unanimes em referir que existem alguns programas que as empresas poderiam instituir não apenas para o expatriado, mas para todos os colaboradores que de uma forma ou de outra interagem frequentemente com pessoas de outras culturas.

De fato, a formação / treinamento e coaching intercultural foi apresentada como um dos melhores investimentos para a eficácia na integração cultural, investimento esse para o qual as empresas ainda não estão atentas, muito devido à falta de experiência a necessidades que se tornaram mais prementes com a globalização.

Estas intervenções teriam o propósito de preparar o colaborador em mobilidade, assim como a sua família, para a nova realidade, munindo-os de ferramentas como o idioma, a história, a posição geográfica, formas de se relacionarem, etc., para uma mais rápida integração. Mas a formação / treinamento e coaching intercultural poderão igualmente servir o propósito de uma aprendizagem continua, que facilite o acompanhamento antes, durante e após o processo de expatriação, ou de capacitar o executivo para entender os aspectos culturais quando tiver que gerir equipes multiculturais. Este tipo de intervenção poderá ser também útil para preparar a equipe que irá receber o gestor vindo de outra cultura.

As empresas também deverão saber identificar os perfis mais adequados para um processo de expatriação, e planificar cuidadosamente o retorno da pessoa em mobilidade.

A ABP Corporate Coaching e a M’Canizares deixaram, no final de cada webinar, alguns exemplos de aspectos a trabalhar em intervenções formativas ou de coaching, com base em investigações realizadas.

Segundo, Trompenaars & Hampden-Turner, todas as pessoas em qualquer parte do mundo podem ser confrontadas com 3 tipos de desafios:

Dizem estes investigadores que existem 5 dimensões de como nos relacionamos com os outros:

  1. Universalismo vs particularismo (regras vs relacionamentos)
  2. Coletivismo vs individualismo (o grupo vs o indivíduo)
  3. Neutro vs emocional (o nível de sentimentos expressos)
  4. Difuso vs específico (o nível de envolvimento)
  5. Realização vs atribuição (forma como o status é conseguido)

Qualquer uma destas 5 dimensões indicam a orientação que cada um valorizará, e, por essa razão irão influenciar a forma de fazer negócios e de liderar. Todas essas especificidades podem ser aprendidas, desenvolvidas e treinadas através de formação ou processos de coaching específicos e especializados. A adaptação intercultural requer exercícios de reflexão pessoal sobre aspectos que nunca tínhamos considerado antes, porque entendíamos como “a realidade” / “a verdade”, e depois desta autoanálise podemos então perceber como nos relacionarmos com os outros, tendo em consideração o seu perfil cultural.

Deixamos, a título de exemplo, algumas dicas a ter em conta para as duas primeiras dimensões, quando fazemos negócio ou lideramos outros.

Universalismo vs particularismo (regras vs relacionamentos):

UniversalistaParticularista
Focado mais nas regrasFocado mais nos relacionamentos
Os contratos legais são devidamente elaboradosOs contratos legais podem ser modificados
Uma pessoa de confiança é aquela que honra sua palavra e os seus contratosUma pessoa de confiança é aquela que honra as trocas efetuadas
Existe apenas uma verdade ou realidade, sobre a qual foi acordadaExistem várias perspectivas sobre a mesma realidade mediante cada participante
Um acordo é um acordoOs relacionamentos evoluem

Fazer negócio com:

Universalistas (para particularistas)Particularistas (para universalistas)
Esteja preparado para argumentos "racionais", "profissionais" e para apresentações que estimulem a concordânciaEsteja preparado para "insinuações" ou "irrelevâncias" pessoais que parecem não conduzir a lugar algum
Não tome atitudes impessoais, "vamos direto ao assunto" com rudesNão tome atitudes pessoais, "quero conhecer-te melhor" como conversa fiada
Prepare com cuidado uma base legal com um advogado, se existirem dúvidasConsidere com cautela as implicações pessoais sobre as suas "garantias" legais

Quando liderando ou sendo liderado:

UniversalistaParticularista
Esforça-se pela consistência e por procedimentos uniformesConstrói networks informais e cria entendimentos provados
Estabelece medidas formais para mudar a forma como o negócio é conduzidoTenta alterar informalmente padrões de atividade
Modifica o sistema de forma a que o sistema modifique o outroModifica o relacionamento com o outro, para que o outro modifique o sistema
Assinala as mudanças publicamenteTenta fazer mudanças de forma camuflada
Procura a equidade, tratando todos os casos de igual formaProcura equidade, tratando todos os casos com o seu respectivo mérito

Individualismo vs coletivismo (o indivíduo vs o grupo):

IndividualistaColetivista
Uso frequente de "Eu"Uso frequente de "Nós"
Decisões tomadas pelo representante individual, no momentoDecisões tomadas por um grupo (necessidade de consultar outras pessoas)
Conquistas individuais e assumir a responsabilidade por si mesmoConquistas em grupo e assumir a responsabilidade conjunta
Férias em casal ou mesmo sozinhosFérias em grupos de amigos e família

Fazer negócios com:

IndividualistaColetivista
Prepare-se para decisões rápidas sem consultarPrepare-se para ser paciente com consultas e consenso
O negociador pode decidir em nome da pessoa / entidade que representa e não é fácil para ele voltarO negociador pode voltar após consultar quem ele representa
Fazer negócios por conta própria é um sinal de que o negociador é altamente respeitadoConduzir negócios acompanhado significa que o negociador tem muito status
O foco é fazer um acordo rápidoO foco é investir em relacionamentos de longo prazo

Quando liderando ou sendo liderado:

IndividualistaColetivista
Ajusta as necessidades individuais com as da organizaçãoTenta integrar personalidade e autoridade no grupo
Introduzir métodos de avaliação e remuneração com base no desempenho individualPrestar atenção ao espírito de equipe, moral e coesão
Espere por alta rotatividade e alta mobilidadeEspere por baixa rotatividade e baixa mobilidade
Busca reconhecer pessoas de alto desempenho e realizações especiaisReforça a importância do grupo e coibi o favoritismo
Estimula as iniciativas individuaisEstimula todos a alcançar os objetivos da equipe

Fonte: Trompenaars & Hampden-Turner (1997), Riding the waves of culture, Nicholas Brealey

A ABP Corporate Coaching e a M’Canizares encontram-se disponíveis para continuar o debate sobre esta temática e/ou para implementar soluções específicas, e damos a nossa garantia em continuar a promoção de intervenções com a utilização de plataformas web até agora bastante restritos à língua inglesa. Também estamos receptivos a quem queira partilhar connosco ideias ou projetos na temática dos negócios e da liderança intercultural.

Organizadoras dos webinars:

Alexandra Barosa Pereira, sócia-diretora da ABP Corporate Coaching, empresa de serviços de Coaching e Formação de Talentos e Liderança com parcerias em todo o mundo. Os coaches da ABP têm como missão desenvolver potenciais, criando visibilidade a talentos, através do acompanhamento personalizado da liderança, de forma a criar envolvimento nas equipes, visite www.abpcoaching.com.

Meiling Canizares, sócia-diretora da M’Canizares, empresa que dedica a desenhar e aplicar soluções para desenvolvimento de pessoas e organizações. Oferece serviços de Coaching, Assessment, Mentoring, Formação de Lideranças e Projetos de Desenvolvimento Organizacional. Para saber mais, visite o site: www.mcanizares.com.br.

Intervenientes no webinar em Português:

Alfredo Soares, formado em Ciências Atuariais, com pós-graduações em Estatística e Matemática Financeira, desenvolveu a sua carreira na área de remuneração, em uma empresa de consultoria global. Hoje ocupa a posição de Principal. De origem portuguesa, já morou nos Emirados Árabes e Arábia Saudita e hoje está alocado no Brasil. A sua experiência multicultural é diversificada, pois a sua função sempre o expôs aos 5 cantos do mundo.

Jaqueline Canuto, licenciada em Gestão de Empresas, pós-graduada em Estratégia Empresarial, Mestre em Marketing e doutoranda em Marketing. Docente Universitária em Portugal e Cabo Verde durante mais de 10 anos. Consultora de Gestão e de Marketing desde 2008;.É CEO de empresas em Cabo Verde em diversas áreas: automóvel (Alucar, S.A., Autoverde, S.A.), segurança privada (Silmac, S.A.), marketing (Wonders Consulting, Lda), cultura/entretenimento (ZeroPointArt - Praia), contabilidade (CGC, Lda), imobiliária (Alimóvel, Lda) entre outras. Presidente da ONDS - Organização Nacional de Diáspora Solidária. Mãe de 2 filhos.

João Cachola, com carreira de mais de 20 anos, formado em Economia, ocupou cargos de gestão em logística, operações e vendas. Há cerca de 15 anos atua como CEO. Executivo de nacionalidade portuguesa e moçambicana, atualmente é CEO uma empresa de Construção e Obras públicas em Moçambique. Participou num dos primeiros processos de internacionalização com a expansão do Grupo Autosil para França. Foi Administrador de expansão e operações da rede IZI (DYY) em Espanha. Conduziu o arranque de uma empresa em Angola de distribuição a retalho. Participou na expansão de uma rede de distribuidores para produtos de construção no Brasil.

Marcos Silva, brasileiro, formado em Administração de Empresas com pós-graduação em Gestão de RH, possui carreira de cerca de 15 anos em Recursos Humanos, ocupa hoje a posição de Gerente de RH da Fiat Chrysler Automóveis para Brasil e Venezuela. Profissional com experiência em grandes corporações como Gerdau, ArcelorMittal e Fiat Chrysler sendo 4 anos de experiência internacional no Luxemburgo. Atuação em equipes multiculturais de diversos países como França, Bélgica, UK, Índia, Holanda. Gestão de expatriados e reporte direto para a Itália.

Intervenientes no webinar em Espanhol:

André Friaça, licenciado en Contabilidad con post grado en Administración y especialización en Finanzas, cuenta con 30 años de experiencia en Finanzas y Controlling. De nacionalidad brasileña, ha ocupado el puesto de primer ejecutivo de Finanzas para América Latina en varias empresas multinacionales, habiendo sido expatriado a Suiza, Grecia y Venezuela.

Antonio Ramallo, tiene 20 años de experiencia en Derecho Español, con Maestría y Doctorado en Derecho de la Empresa. Consultor en Derecho Extranjero por la OAB / SP. Nacido en España, con domicilio en Brasil. Socio Responsable del área de "Spanish Desk" en un importante bufete de abogados, ofrece servicio a clientes españoles y latinoamericanos en la defensa de sus intereses en Brasil.

Hector Sandoval, de Guatemala, Coach, Consultor y Formador en temas de liderazgo y gestión. Ha desarrollado su carrera como ejecutivo en el sector de las aerolíneas internacionales, habiendo dirigido equipos y proyectos en más de 35 países, durante los últimos 28 años. Su experiencia incluye puestos de responsabilidad directiva en áreas como operaciones, servicio al cliente, marketing, branding, recursos humanos, comunicación corporativa y gestión de crisis.

Meiling Canizares - Sócia Diretora da M'Canizares e autora do blog.

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Meiling Canizares é Sócia Diretora da M'Canizares e possui 20 anos de experiência em desenvolvimento humano e organizacional.

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